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St. Patrick's Day: The Pogues e outros hinos da bebedeira

Nesta quinta, dia 17, será comemorado em todo o mundo o Dia de São Patrício, padroeiro da Irlanda. Internacionalmente, a data ficou conhecida por seu nome em inglês -St. Patrick's Day- e é uma ótima justificativa para beber até cair em nome do santo.

Poucas bandas combinam melhor com a tal comemoração que o Pogues, grupo que carrega em suas veias sangue verde. O conjunto surgiu das cinzas do Pogue Mahone -gaélico para a expressão "kiss my ass"- e liderado por um punk criado na Irlanda, radicado em Londres e ex-vocalista dos Nipple Erectors.

Autodestrutivo e um autêntico poeta das ruas, Shane MacGowan é hoje um fantasmagórico sobrevivente da heroína, do tabaco e dos excessos etílicos. O fato de estar vivo em 2016 é como imaginar Jim Morrison mendigando atualmente nas esquinas de Paris. Ou Sid Vicious ainda hoje a se drogar numa espelunca qualquer de Nova York. MacGowan é homem de outro tempo.

Líder torto do Pogues, MacGowan notabilizou-se como uma espécie de não-cantor. Por trás do folk irlandês de alma punk, o vocalista de sorriso podre entregava letras sobre a saga migratória de seu povo ("Thousands Are Sailing"), a vida de irlandeses marginais em Londres ("Boys From County Hell") ou em completo vazio existencial ("The Auld Triangle").

A poesia de MacGowan e a música do Pogues, executada com instrumentos de rock e também aqueles tradicionais do folk irlandês -violinos, apito, bandolim, banjo e acordeão- conquistou a atenção de dois admiradores famosos e que terminaram produzindo discos do grupo: Elvis Costello e Joe Strummer. O ex-líder do Clash, inclusive, participou de vários shows do Pogues, até mesmo no Dia de São Patrício, e integrou a banda por um curto período, quando MacGowan encontrava-se num estado físico mais deplorável que o normal.

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A discografia do grupo vale ouro, mas, para começar, uma boa dica é "If I Should Fall From Grace with God", de 1988. Essa obra-prima produzida por Steve Lillywhite (Rolling Stones, U2, The Smiths) traz uma coleção de pérolas. Desde a faixa título, um 'blend' magnífico de folk com levada punk, passando pela clássica balada "Lullaby of London", a dilacerante "Thousands Are Sailing" e chegando a temas festeiros como "Turkish Song of the Damned", "Fiesta" e "Sit Down by the Fire".

O destaque do disco, no entanto, fica com "Fairytale in New York", escrita por MacGowan em parceira com Jem Finer, e lançada originalmente como single. A canção descreve os sonhos despedaçados de um junkie irlandês na noite de Natal de Nova York e apresenta um belíssimo dueto de MacGowan com a cantora folk Kirsty MacColl. "Fairytale in New York" é tida como a mais linda canção de Natal já escrita. Arrebatou um disco de platina na Inglaterra e tornou-se parte integrante da cultura popular.

A vida de MacGowan é o espelho de sua poesia marginal. No documentário "If I Should Fall From Grace: The Shane MacGowan Story", de 2001, o cantor é mostrado em variados estados de embriaguez, sempre com um cigarro entre os dedos encardidos de nicotina e destilando causos com um sotaque impenetrável. É triste e inesquecível a passagem sobre a prisão de Shane motivada pela denúncia de sua amiga Sinéad O'Connor - sim, aquela mesma do hit "Nothing Compares 2U".

Um 'pint' de cerveja irlandesa é a companhia perfeita para degustar a obra do Pogues. Sua música tem o poder de levantar qualquer festa, mas também um contraponto sombrio e melancólico, indicado para quem prefere terminar a noite curtindo uma fossa no canto escuro do balcão. 


CLÁSSICOS DA BEBEDEIRA

~ 5 temas do cancioneiro irlandês para ver duendes ~

  • "Beer Beer Beer" (THE CLANCY BROTHERS)
    Homenagem a Charlie Mopps, o homem que 'inventou' a cerveja e nos fez escapar de passar a vida tomando chá. De acordo com a letra, o homem foi tão feliz em sua criação que só pode ter sido rei ou sultão.

  •  "Whiskey in the Jar" (THIN LIZZY)
    Há inúmeras versões dessa canção folclórica, mas nenhuma comparável à que catapultou o Thin Lizzy ao sucesso, ainda no início de carreira, com o incrível trio formado por Phil Lynott, Eric Bell e Brian Downey.

  • "The Wild Rover" (THE DUBLINERS)
    O mais famoso de todos os temas de bebedeira tem registros que datam do século XVI. Narra a história de um andarilho a quem é negado o direito de pagar fiado numa taberna - até que mostra o ouro trazido de suas viagens. Essa gravação dos Dubliners é minha favorita.

  •  "Drunken Sailer" (IRISH ROVERS)
    Ahoy! O que pode ser mais legal que uma canção de embriaguez protagonizada por marinheiros? Provavelmente, nada.

  • "All for Me Grog" (THE CLANCY BROTHERS & TOMMY MAKEM)
    Um dos meus temas prediletos do folclore irlandês. O sujeito que gasta tudo em tabaco, whisky e pagando bebidas para as moças. Termina vendendo o par de botinas e outras peças de roupa para continuar bebendo.

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