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John Lydon: a entrevista

Impossível contar a história do rock sem citar John Lydon. O eterno líder do Sex Pistols é amado, odiado, imitado, criticado e reverenciado. Tudo ao mesmo tempo e com o mesmo fervor.

Aos 54 anos, Lydon resolveu reformar o magnífico PiL. Como parte do processo de botar a banda mais uma vez na estrada, o vocalista tem concedido as habituais entrevistas promocionais. Uma delas, de março deste ano, me pegou de surpresa.

Mais de uma vez li relatos que descrevem John Lydon como um sujeito arrogante e megalomaníaco. De outras fontes, ouvi que o cantor é alguém que vive em outro planeta.

O jornalista André Barcinski, por exemplo, conta que desistiu de entrevistar Lydon para seu livro "Barulho" após este ter exigido uma limousine para ir buscá-lo num hotel.

Pois bem, ao menos para este escriba a fama acaba de ser implodida.

O responsável pela façanha é o canadense Nardwuar, um impagável entrevistador sobre o qual escrevi um texto que já se evaporou da Caixa Preta. Nard conversou com Lydon por nada menos que 45 minutos. O resultado é diversão pura.

O gancho para a entrevista foi, claro, a reunião do bacanérrimo PiL - banda que não se apresentava ao vivo há 17 anos e que em 2010 foi headliner do badalado festival Coachella, entre outros.

E se apenas a notícia da volta do PiL já seria suficiente para animar qualquer ouvinte, a conversa -que você pode ouvir nos podcasts do iTunes- tem um aura de camaradagem que eu há muito não via.

Lydon, ao contrário da (má) fama, revela-se um daqueles ingleses fanfarrões e boa praça: não economiza nas gargalhadas e responde sobre tudo com supreendente simplicidade.


Pra começar, essa figura "icônica" do rock'n'roll mostra que não se fechou numa bolha e acompanhou muito do que se fez na música desde a revolução de costumes que ajudou a criar. Só pra citar um exemplo, John Lydon é fã do Exploited. Eu não imaginaria.

Como bom inglês, fala com gosto de seu time de futebol favorito, o londrino Arsenal, de quem cita vários jogadores da velha guarda. Mas também discorre sobre atividades prosaicas, como preferir DVDs ao cinema - local onde é tremendamente assediado.

Lydon se diz fã das bandas alemãs Magma e Can, gosta do Free, diz que o Clash não sabia tocar reggae direito e reclama que a herança do punk é lamentável: de um lado bandas obtusas e radicais, de outro o Green Day com cabelos espetados e jaquetas de couro.

Nardwuar é o melhor entrevistador que conheço. Mistura cara-de-pau com conhecimento enciclopédico de rock. Em uma de suas considerações, pergunta se Lydon conheceu "heróis do punk americano" - gente como, por exemplo, Jello Biafra.

A resposta é um contraponto curioso ao que eu mesmo havia perguntado a Jello há menos de um mês: "Ele fala demais e não tem humor. Tenta parecer intelectualizado e provar seu ponto de vista sobre as coisas. Parece que está sempre tentando vender essa imagem. Acho que às vezes temos que saber socializar e apenas bater um bom papo".

E isso Lydon provou que sabe fazer.



No vídeo acima, o PiL no auge da forma. Quem se aventura a trazer Lydon e banda para o Brasil?

6 comentários:

Roberto Sôlha disse...

Cara, tem essa entrevista no youtube? Não achei isso lá. Fiquei curioso, porque o Lydon é sempre ranheta com repórteres...

Eduardo Abreu disse...

Acho que não tem, Soul-ha. No canal do Nardwuar no Youtube só tem entrevistas filmadas e essa foi por telefone. Mas via iTunes é fácil de achar. Só clicar em podcasts e digitar "nardwuar" que vc encontra. Vale a pena, o papo é hilário.

Ernesto Ribeiro disse...

Lydon mentiu a maior merda. O Clash é a única banda de brancos que gravou obras-primas que entram em TODAS as Seleções dos Melhores Reggaes Já Feitos, como "Guns of Brixton", um clássico absoluto. Pior pra ele, que nunca gravou um reggae na vida.


No livro dele, o infeliz confunde tanto as coisas que tenta usar o gosto "pioneiro" dele por reggae como "prova" de que o Clash não poderia ter gostado de reggae desde o início também. Como se ele, John Lydon, fosse o único branco na Inglaterra a gostar de reggae...


Lydon virou uma piada. Cagou sobre Joe Strummer, caluniando o líder do Clash de maneira absurda, inventando que Joe "morava numa mansão num dos bairros mais chiques de Londres." Estranhíssimo que ele tenha esperado 30 anos até Joe morrer para soltar essa cagada que ninguém confirma. Ele deve estar gagá, porque TODAS as evidências da realidade só provam o contrário: tem até foto na internet mostrando o próprio John Lydon e Joe Strummer em 1976 morando no mesmo apartamento abandonado (squat).


E se ele acha que Jello Biafra "fala demais e não tem humor, tenta parecer intelectualizado e provar seu ponto de vista sobre as coisas, parece que está sempre tentando vender essa imagem, sem saber socializar e apenas bater um bom papo" é porque John Lydon não tem espelho em casa. Isso é que é decadência: até hipócrita ele se tornou.


Não é que eu não goste dele pessoalmente --- é que NINGUÉM gosta dele. Quem mais o odeia são os próprios Sex Pistols. Desde o início, os colegas de banda sempre o abominaram. Escreveu uma autobiografia "imparcial, com todos os pontos de vista", mas só não deu voz de defesa á pessoa que ele mais atacou gratuitamente: seu próprio parceiro de composição, o baixista Glen Matlock, autor de quase todas as músicas dos Sex Pistols, e portanto aquele que mais o beneficiou.


Curioso como ele morre de inveja de todos os outros heróis punks. Principalmente quando um deles não está mais vivo para se defender. Ou das ridículas ofensas gratuitas a Ozzy Osbourne, que a filha deste soube refutar com a maior elegância.


Se é mentindo que esse velho patético precisa pra promover a volta do PIL, então esse cara está fudido. A idade pesou no viadinho caquético. Já era. John Lydon ficou caduco. Esclerosado. Opinião é que nem bunda, cada um tem a sua; então ele sabe onde enfiar a dele: na privada.

Eduardo Abreu disse...

Ernesto, é por isso que Lydon é "amado, odiado, imitado, criticado e reverenciado. Tudo ao mesmo tempo e com o mesmo fervor". Você detonou o cara com o fervor que eu citei no texto. E acho mesmo que ele não deve ser a pessoa mais fácil do mundo. Mas nessa entrevista ele mostrou-se extremamente simpático. Gosto do Lydon e do Strummer. Os dois foram muito bons no que se meteram a fazer. Pergunta: apesar de tudo, vc recomenda a autobiografia do Joãozinho Podre?

Ernesto Ribeiro disse...

Meu bom e caro senhor Eduardo Abreu,


Muitíssimo obrigado por publicar o meu comentário.


De fato, você levantou uma questão muito pertinente, e ainda fez uma observação sagaz ao me decifrar. Com efeito!


Johnny Rotten é, sempre foi e sempre será MEU HERÓI PUNK MAIOR, junto com Marcelo Nova, Joe Strummer, Jello Biafra. Meu modelo.


O problema é que, como tantos grandes homens, ele é "perfeito em sua imperfeição" e portanto eis o paradoxo: esse tal de John Lydon é um estranho pra mim. Eu o detesto. As 3 causas do fim dos Sex Pistols foram: Malcolm McLaren, Sid Vicious e John Lydon.


Bem, respondendo á sua pergunta: apesar de algumas injustiças periféricas e crassos erros de julgamento superficiais, SIM, eu recomendo fortemente a autobiografia de John Lydon.


ROTTEN: NO IRISH, NO BLACKS, NO DOGS é leitura obrigatória, assim como os próprios Sex Pistols são discoteca obrigatória. Vemos cenas conhecidas em um outro ponto de vista, temos descrições reveladoras — e devastadoras — sobre figuras como Vivienne Westwood, Mick Jagger e até Siouxsie dos Banshees. Ninguém escapa incólume. Mais do que isso, somos brindados com análises filosóficas sobre a brutalizante sociedade britânica. Quase um quinto do texto não é narrativo, é reflexivo. O homem é basicamente um filósofo humanista. Resumindo: é como "Mate-Me Por Favor" com filosofia, sociologia, psicologia. Me surpreendeu. É muito melhor do que eu esperava. Além de ser o relato testemunhal do âmago dos acontecimentos, também é uma obra-prima da literatura, colocando o escritor John Lydon como um dos grandes estilistas da língua inglesa.


Voltando ao país-esgoto Brasil (aarrghh!...), você percebe que um povo é completamente desprezível e pervertido até a demência quando entra numa livraria e encontra tudo sobre o cocô do pop brasileiro e nada sobre o Camisa de Venus, vê 10 merdas sobre Merdonna e nenhum livro sobre os Sex Pistols, topa com 5 bostas sobre Justin Biba e nenhuma obra sobre o Clash. Nem importado em inglês.


Precisei fazer uma encomenda especial para importar meus exemplares. No último caso, usando um cartão de crédito internacional. O Brasil é tão abominável que somos governados por demônios inimigos do bom gosto. São sempre os piores no poder, inclusive econômico, no esforço ditatorial da obsessão psicótica de impedir que se tenha acesso a qualquer coisa boa, brilhante, profunda, REALMENTE rebelde, subversiva, transgressora.


Repetindo Paulo Francis: a América Latrina vive em estado de entropia; passou da selvageria á barbárie, numa decadência que nunca teve um apogeu.


É por essas e outras que eu sou ateu e anarquista.


Parabéns pelo seu bom trabalho e seu excelente bom gosto. Continue firme nessa batalha cultural.


Pessoas como nós precisam unir forças e lutar essa batalha inglória contra a degeneração reinante.


Tudo o que eu penso dessa incultura, você encontra no MEU BLOG-DOSSIÊ:

ALVO HUMANO


www.alvohumano.blig.ig.com.br


Meu Canal no Youtube:

Hacker73


http://www.youtube.com/user/Hacker73



PS: Se quiser receber meus Artigos Ilustrados sobre Cultura Pop, História Antiga, Matriarcalismo e Arqueologia, mande uma mensagem para meu e-mail:


dystopia@ig.com.br


Meus sinceros votos de boa sorte, e um forte abraço.

Eduardo Abreu disse...

O livro parece ótimo! Vou comprar assim que puder.

Sobre as biografias de Justin Bieber e Lady Gaga, é o sinal dos tempos. Ou o final. Mas parece que isso não acontece só aqui, não.

Embora sua frase seja impagável: "O Brasil é tão abominável que somos governados por demônios inimigos do bom gosto". Muito boa essa.

Abraços!