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Caixa Preta Entrevista: Monster Magnet (2005)


Conheci o Monster Magnet no início dos anos 90, quando o grupo despontou através de alguma fresta da invasão alternativa que dominou as rádios, a MTV e enlouqueceu as grandes gravadoras que andavam à caça de um novo Nirvana ou Pearl Jam.

 O grupo de New Jersey, híbrido de stoner e space rock, era estranho demais para triscar no sucesso das bandas de Seattle. Surgiu com o disco "Spine of God", repleto de guitarras e bateria soterradas de flanger, e letras que misturavam paganismo com cogumelos e discos voadores. Do álbum de estreia, brilharam a pedrada "Medicine" e a viajandona "Nod Scene", na qual o líder Dave Wyndorf canta com a inflexão vocal de Frank Zappa.



Dali em diante, o Magnet só progrediu. Seus discos seguintes vieram mais bem produzidos e com canções que flertavam com a crueza dos Stooges, os mantras do Hawkwind e o peso do Black Sabbath. Mas tudo com uma assinatura muito particular, como se todas essas belíssimas referências tivessem sido reescritas com a cabeça dos anos 90 e depois dos 2000.

Ed Mundell, grande guitarrista, foi o mais longevo colaborador de Dave Wyndorf, o xamã que fundou e que governa há mais de duas décadas a entidade Monster Magnet. Gravou álbuns fundamentais, como "Powertrip", ganhador do disco de ouro na América, "God Says No" e o festeiro e extravagante "Monolithic Baby".



Entrevistei Mundell por email, em 2005, quando o grupo se preparava para gravar o que viria a ser o sensacional "4-Way Diablo". A entrevista foi publicada junto com uma reportagem especial na revista Rock Press. 



Caixa Preta – Você pode antecipar alguma coisa sobre o novo álbum? Como estão soando as canções?
Ed Mundell – O novo material é uma espécie de junção das faixas deixadas de fora do último disco e do “clima” em que estamos agora, tendo Bob Pantella como o baterista da banda. Vocês precisam saber que quando estávamos compondo para o último álbum, tínhamos entre 50 e 60 canções para trabalhar, então, de certa forma, estávamos planejando 3 discos com antecedência. Assim sendo, há muita música para ser testada agora somada ao que ainda estamos criando. E ter Bob na banda faz com que tudo atinja níveis insanos algumas vezes! E de um jeito muito positivo. Acho que a direção natural que as coisas estão tomando vai nos levar para uma onda mais psicodélica, algo entre (os álbuns) Spine of God e Dopes to Infinity…o que está bom pra mim!

CP – Parece que há uma certa atmosfera permeando cada disco do Monster Magnet. Como isso é obtido? Você e Dave Wyndorf desenvolvem algum conceito juntos antes de entrarem no estúdio ou é um processo natural de composição?
EM – Bem, parece que as coisas acontecem naturalmente para nós. Às vezes um disco está finalizado e precisa apenas de um “algo mais”, então temos que voltar e criar isso. Estou trabalhando com Dave há muito tempo, então basicamente já sabemos o que precisa ser feito para criar um álbum do Magnet que nos satisfaça, assim como a qualquer um que se importe em ouví-lo… Normalmente, nós entramos no estúdio com 15 a 20 músicas prontas e quando percebemos qual é o clima predominante, selecionamos o repertório. Todos nós temos coleções gigantescas de discos e AMAMOS música, então sabemos o que NÓS gostaríamos de ouvir num álbum, portanto não trata-se de física quântica!

CP - Monolithic Baby! é provavelmente o disco mais direto de vocês e possui um número expressivo de hits em potencial. Você acha que esse álbum teria dominado as paradas com uma promoção maior por parte da gravadora? Aliás, como você vê a indústria fonográfica hoje em dia?
EM – Sabe, tudo está tão fodido na América em termos musicais. Nós apenas fazemos o nosso lance e espero que possamos continuar fazendo isso pra sempre. Nós jamais deveríamos ter sido uma banda de hit singles. Nós somos aqueles que escapamos por entre as rachaduras da indústria musical, mas acho que somos bons músicos e com um forte senso de composição. Então, se isso ainda vale para alguma coisa…

CP – Como você se envolveu com música? Existe algum artista ou álbum em particular que te despertou o desejo de fazer música?
EM – Tudo vem de Jimi Hendrix. E tenho dito!

CP – Se você fosse tivesse que citar o momento mais memorável de sua carreira no Monster Magnet, qual seria? Vale tudo: discos, shows, canções, etc.
EM – Cara, essa é difícil! Nós excursionamos com todo mundo e eu adorei as turnês com o Marilyn Manson e com o Aerosmith. Tem as garotas, as drogas… Eu poderia me estender por mais um bom tempo nessa resposta. Digamos então que se eu morresse amanhã, poderia afirmar que não tenho arrependimentos. Tudo acontece por uma razão e nessa vida eu já ri e me diverti tanto que quase chega a ser ilegal! Ah, e nós tocamos no mês passado no Azkena Festival em Vittoria, Espanha, e acho que consegui tocar umas notas muito bacanas por lá. Me fizeram sorrir.

CP – Existe alguma possibilidade de vermos o Monster Magnet no Brasil algum dia?
EM – Daqui a 6 dias vamos para Los Angeles para começar a gravar o novo disco e aqueles que mandam estão planejando uma turnê na Europa em março e abril (de 2006), além de outros festivais aqui e ali. Então, vamos ver… Se rolar, vá nos assistir e tomar uma cerveja com a gente! É bom você aparecer!


"Monolithic" – Os oceanos deveriam ter se aberto em 2004 com o poder dessa canção

Black Sabbath - O Fim


Black Sabbath são meus Beatles. Sempre estiveram lá, como uma espécie de instituição.

Primeira lembrança talvez seja o álbum "Heaven and Hell" -justamente o primeiro sem Ozzy, vejam só!- que conheci uns três anos após o lançamento. As memórias se misturam com a carreira solo de Ozzy Osbourne, seus clipes no programa Som Pop, o show no primeiro Rock in Rio, que vi pela TV, e o disco duplo ao vivo "Speak of the Devil", só com repertório do Sabbath.

Em algum momento da mesma época um primo mais velho me emprestou duas preciosidades: as versões nacionais de "Paranoid" e "Master of Reality". Ambas com capas muito bem impressas e o icônico rótulo da Vertigo no centro do vinil. Detalhe curioso: a edição brasileira de "Master of Reality", de 1971, tem o nome da banda escrito com uma letra em cada cor; bem diferente do roxo da versão original.

Em 1990 ou 91, para inaugurar meu primeiro CD player, comprei o primeiríssimo álbum de carreira do Sab. A ideia era colecionar a obra da banda em formato compact disc e, preferencialmente, na ordem cronológica. Demorou, mas consegui. E, de quebra, comprei também os dois discos solo do baterista Bill Ward, bootlegs e picture discs.

O Sabbath passou pelo Brasil pela primeira vez em 1992, com a digna formação do álbum "Mob Rules", e lá estava eu para vê-los ao vivo. Tocaram boa parte de seus clássicos, privilegiando os discos que gravaram com Ronnie James Dio. Mas como tornou-se praxe na carreira do grupo, esse line-up logo se esfarelou. Sete anos mais tarde, juntaram-se a Ozzy e Ward para uma reunião que resultou num disco ao vivo e que, por algum motivo chato, também foi interrompida prematuramente. E anos depois, de novo com Dio e Appice sob o nome Heaven & Hell. Pouco senso de ocasião e muitas idas e vindas.

Levou três décadas, mas vi, enfim, na última sexta-feira, meus Beatles ao vivo. Sem Ward, mas com Ozzy, e na esteira do grande momento registrado no álbum "13" - o primeiro de inéditas com Oz em 35 anos. A aura de grandiosidade histórica do grupo parece capaz de ofuscar quase todos os artistas em atividade. E você percebe isso quando vê gente de todas as idades e lugares formarem uma multidão ávida para louvar e desfrutar canções com mais de 40 anos.

A entrada na Praça da Apoteose logo revela os três telões de LED com o clássico logo da banda -sim, aquele do "Master of Reality"- e o adolescente em mim se contém para não derramar as primeiras lágrimas. Nem mesmo o bom set de abertura da banda americana Rival Sons, e seu caldo que mistura hard rock e blues, Free e Led Zeppelin, é capaz de me distrair do fato que dali a instantes teríamos o Black Sabbath no palco.

E então as luzes se apagam. E uma animação nos telões termina com o logo do grupo em chamas. Tony Iommi, recuperado da leucemia que quase lhe tirou a vida, surge com aspecto mais saudável e empunhando sua mítica Gibson SG. A canção "Black Sabbath" abre o show como também inaugurou os próprios anos 70, encerrando a fantasia flower power sessentista e retratando a distopia pós-hippie.

Ozzy é um sobrevivente como Iggy Pop e, tal como o Iguana, epitomiza o próprio rock'n'roll. Geezer é pura elegância, um autêntico lorde inglês e um dos melhores contrabaixistas de sua época. Faltou Bill, que está vivo e bem na Califórnia, mas magoado com seus ex-companheiros. Tommy Cufletos, o substituto várias décadas mais jovem, é ótimo baterista, mas não tem o swing e a imprevisibilidade jazzística do mestre. Em se tratando de Sabbath, não se pode ter tudo e estamos mais do que no lucro.

Fiz de tudo para evitar spoilers e não li qualquer coisa sobre o set list da turnê de despedida. Queria estar aberto a surpresas, mas tive poucas. "After Forever" e "Dirty Women" foram as escolhas menos óbvias, mas o restante do repertório foi pinçado a dedo para agradar as plateias pelo mundo afora. Das treze canções executadas, nada menos que onze são extraídas dos três primeiros discos do Sabbath, que são também seus mais populares. Não há nada de álbuns colossais como "Sabbath Bloody Sabbath" e "Sabotage", e tampouco de "Never Say Die" ou "13". Uma pena, mas para isso criei o set list dos (meus) sonhos no final do post.

Se te falarem que Ozzy está desafinando em algumas músicas, acredite. Ele já fazia isso antes, até em estúdio. Se te disserem que a banda toca agora em ritmo mais cadenciado, também é verdade. Mas eles são os arquitetos do doom e Black Sabbath nunca teve a ver com velocidade. E ainda, se repetirem por aí que som ao vivo não tinha o volume esperado, olha, é bem possível que também seja verdade. Em 1992 eles também não tocaram tão alto assim.

Mas são detalhes. E irrelevantes perto do que é ver as faíscas que ainda resultam da química entre esses gigantes. A obra do grupo, não à toa, é uma mais influentes dos últimos 50 anos. Está em tudo que foi feito na música de forma rebelde desde 1970. E isso é muita coisa.

Obrigado por tudo, Sabbath.

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SET LIST
Rio de Janeiro, 02/11/16

Black Sabbath
Fairies Wear Boots
After Forever
Into the Void
Snowblind
War Pigs
Behind the Wall of Sleep
Bassically/N.I.B.
Rat Salad
Iron Man
Dirty Women
Children of the Grave
Paranoid

SET LIST
Caixa Preta

Black Sabbath
Sabbra Cadabra
Killing Yourself to Live
Sabbath Bloody Sabbath
Never Say Die
Planet Caravan
War Pigs
Hard Road
N.I.B
Iron Man
Supernaut
Symptom of the Universe
God is Dead?
Cornucopia
Snowblind
Paranoid