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A elegância de Bill Ward e o pior do Sabbath

Agorinha há pouco, Bill Ward tornou-se, por poucos minutos, um dos assuntos mais falados do Twitter no Brasil. Achei, honestamente, que o lendário baterista tivesse morrido -já teve dois infartos antes-, mas está vivo, ainda que amargurado.

Ward, ao que tudo indica, não vai mais participar da volta do Black Sabbath. Isso o exclui, automaticamente, de gravar o novo disco e sair em turnê com a banda. Motivo: ele não concorda com as condições contratuais e se diz escaldado por ter topado coisa semelhante no passado.

Como em todo tipo de negócio que envolve dinossauros do hard rock, os egos são gigantescos e a capacidade de fazer burradas é histórica. A carreira do Sabbath está repleta de oportunidades desperdiçadas por vaidade e falta de visão. Essa reunião de 2012 se encaminha para ser mais uma delas.

Sem acesso a detalhes do contrato, é fácil escolher um lado da história. Bill Ward é um cara sentimental e protagonista de pequenas e desconhecidas histórias de generosidade.

No começo da internet, li um depoimento no fórum de seu website que jamais esqueci: um fã relatava que, quando esteve por meses numa cama de hospital, escreveu uma carta para Ward e recebeu, como resposta, uma fita cassete gravada por Bill em que falava sobre seus próprios percalços e dava força para o fã sair da depressão.

Agora, dá para imaginá-lo brigando com o Sabbath por dinheiro à essa altura da vida?


Em 1990, Bill lançou seu primeiro disco solo: "Ward One: Along the Way". Comprei no ato. É melhor que qualquer coisa que seu ex-colegas fizeram depois que o Sabbath se desintegrou.

"Along the Way" é tão bom justamente por não ser nada óbvio. Bill sequer toca bateria em algumas faixas e apresenta uma elaborada paleta de sons. De baladas e climas atmosféricos -com sintetizadores, efeitos e percussão- a um tipo de rock clássico que ganha muito com a inestimável participação de Jack Bruce, do Cream. A canção "Tall Stories", em que Jack e Bill dividem os vocais, e ainda com a presença da cantora de R&B Lorraine Perry, é de chorar.

O velho comparsa Ozzy Osbourne também canta em "Jack's Land" e "Bombers (Can Open Bomb Bays)", mas consta que as duas faixas não foram liberadas para futuras reedições do álbum.

A enorme e sórdida possibilidade que Sharon Osbourne tenha colocado obstáculos burocráticos num projeto delicado como "Along the Way" apenas reforça a ideia de que Ward, em 2012, deseje tratamento mais nobre do que ser um simples empregado na engrenagem comercial por trás da nova reunião.

Talvez o Sab deveria fazer apenas uma grande e derradeira turnê nostálgica, sem disco novo nem nada, e encerrar com dignidade uma obra que, em seu período fértil, gerou uma das mais assombrosas discografias do rock.

Por isso que, nessa briga, fecho com Bill Ward. E você?


Clipe promocional do álbum "Along the Way": Bill e Oz já foram mais felizes