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D.R.I. e o crossover




Crossover: substantivo

Na música popular:
  1. o ato de migrar de estilo, normalmente com a intenção de obter apelo comercial junto a um público mais amplo;
     
  2. música que atravessa estilos, compartilhando atributos de vários outros gêneros musicais e, portanto, muitas vezes atingindo uma maior audiência.
O dicionário não mente: as primeiras bandas punks americanas a incorporar elementos do thrash metal, o fizeram por questão de sobrevivência. E o fato desse subgênero musical chamar-se "crossover" não é mero acidente.

Na próxima terça-feira, dia 22, um dos fundadores desse estilo se apresentaria no Brasil. A turnê, que incluiria datas no México, Chile e Argentina, terminou cancelada por problemas com as agências organizadoras. O grupo em questão é o D.R.I., sigla para Dirty Rotten Imbeciles, fundado em 1982 na cidade de Houston, Texas. Eles definiram os pilares do gênero e também o batizaram, através do emblemático álbum "Crossover", de 1987.

Mas antes de falar da cena criada a partir da fusão desses estilos musicais, é importante conhecer o contexto em que ela surgiu. Em depoimento ao jornalista Marc Spitz, o vocalista do Bad Religion, Greg Graffin, revelou: “Por volta de 1985-86, não existiam [nos EUA] mais bandas de punk rock na definição clássica. Havia pouquíssimos selos punk. Esse era o contexto da época e também uma das razões pelas quais o Bad Religion foi considerado revigorante quando lançou o álbum ‘Suffer’. Na Alemanha, nos chamavam de salvadores da chama punk e tocávamos para plateias de mil pessoas, enquanto nos EUA tínhamos sorte se conseguíssemos tocar em um clube minúsculo de Orange County…”.

O crossover surgiu nessa época e, mais do que uma experiência sonora, representou o esforço de bandas hardcore/punk em se aproximarem dos fãs de metal. Musicalmente, essa mistura só deu caldo porque trabalhou com estilos que eram primos entre si, pois que o thrash metal, originalmente, já havia bebido na fonte de Bad Brains, Black Flag e companhia.

Não é fácil definir o disco que trouxe a primeira gravação de crossover. “Animosity”, do Corrosion of Conformity, lançado em 1985, é citado por muitos como a pedra fundamental do estilo. Nos anos seguintes, várias bandas embarcaram nessa sonoridade criada a partir da velocidade do hardcore e dos arranjos, riffs e solos de guitarra herdados do thrash. Suicidal Tendencies, Crumbsuckers, English Dogs, Agnostic Front, Gang Green e Cryptic Slaughter são alguns dos grupos que promoveram essa fusão. E o fato de todas essas bandas serem egressas da cena punk só confirma outra vez o que diz o dicionário.

Outro indício que o público-alvo desse subgênero eram os adeptos do thrash é que os principais álbuns de crossover foram editados por gravadoras como Metal Blade e Combat. O hardcore mudava para sobreviver e era vendido em nova embalagem a plateias metaleiras.

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D.R.I. em 1987
O  D.R.I., autor do disco que encapsulou todos os parâmetros do estilo, é a banda que terminou mais identificada com o crossover. Gravaram apenas outros três álbuns desde 1987, e todos seguindo a cartilha do gênero, com maior ou menor sucesso.

Olhando retrospectivamente, o crossover fechou o círculo que conecta dois estilos musicais nascidos nas ruas e avessos às fórmulas existentes. Tanto thrash quanto hardcore sobreviveram à margem do rock comercial, com bandas excursionando em velhos furgões, tocando em espeluncas e dependendo da divulgação de fanzines e programas de rádio malditos. Os grupos oriundos do punk expressavam essa dura realidade com letras críticas ao 'establishment' e influenciaram parte do thrash metal. Sacred Reich, Vio-lence e Megadeth, entre outros, adotaram também um discurso ácido e repleto de críticas sociais.

Essa troca de influências explica a existência de álbuns como “Speak English or Die”, do S.O.D., e também os elementos punk que contaminaram o som dos novaiorquinos Anthrax e Nuclear Assault.  E como em toda onda, houve também aqueles pegaram o trem em movimento e já nasceram tocando crossover – casos de Mucky Pup, Excel e Ludichrist.

E por que teria o crossover passado anos como um fóssil underground, até ser redescoberto pela nova geração? Talvez tenha sumido em decorrência da curva descendente do thrash, que perdeu a popularidade na virada para a década 90. Agnostic Front e English Dogs, por exemplo, descartaram os elementos de metal e reassumiram a sonoridade punk/HC depois de uns anos. Já o Corrosion of Conformity foi mais longe: explodiu a ponte e terminou metido no stoner e southern rock.

Quase três décadas após seu auge, o crossover experimentou um 'revival' proporcionado pela redescoberta do thrash. O gênero passou a produzir novos grupos que decalcam não apenas o som, mas também a estética e a moda de rua daqueles tempos – bandanas, bonés de aba invertida, bermudas coloridas e tênis de skate.

Difícil mesmo vai ser gravarem discos tão originais quanto esses abaixo.

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Discografia básica do crossover:

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Animosity – Corrosion of Conformity (1985)

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Speak English or Die – S.O.D. (1985)

post-crossover-capa-03
Cause for Alarm – Agnostic Front (1986)

post-crossover-capa-04
The Age of Quarrel – Cro-Mags (1986)

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Crossover – D.R.I (1987)

post-crossover-capa-06
Join the Army – Suicidal Tendencies (1987)

post-crossover-capa-07
Immaculate Deception – Ludichrist (1987)

post-crossover-capa-08
Can’t You Take a Joke? – Mucky Pup (1987)

post-crossover-capa-09
You Got It – Gang Green (1987)

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The Joke’s On You – Excel (1989)

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