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Iron Maiden - A serviço de Sua Majestade
Nada representa melhor a ideia da civilização ocidental que a aristocracia britânica. Os modos, a pompa, a circunstância. Está tudo ali.
Muito disso está impregnado em sua gente - do hooligan de dentes estragados ao cantor de britpop com ar blasé. Como diria Christopher Lee num filme B: "Somos ingleses, entende?".
O documentário Iron Maiden: Flight 666, em cartaz até pouco tempo na HBO, é sobre a vida de músicos durante uma turnê. Mas é também sobre uma nova velha forma de colonialismo.
O filme se concentra na primeira parte da turnê espertamente batizada de "Somewhere Back in Time" e mostra os decanos do heavy metal britânico varrendo a borda do mundo em um opulento Boeing 757 personalizado: Índia, México, Costa Rica, Argentina, Colômbia, Brasil, Chile.
A fita ecoa algum interesse sociológico. Como na emblemática cena de um colombiano de uns 30 anos de idade, chorando copiosamente após apanhar a baqueta de Nicko McBrain. A imagem, sozinha, resume o filme.
Não importa se a parte não-documentada da tour tenha ocorrido na Europa ou se, mesmo no filme, vejamos a banda em ação na Austrália, Japão, EUA e Canadá. A paixão desmedida pelo Iron Maiden reside mesmo é na periferia do mundo.
O viajado Bruce Dickinson finge surpresa ao descobrir que tem público na Costa Rica. Se refere ao país basicamente como uma selva. Pouco depois, vemos costarriquenhos correndo atrás do ônibus da banda como refugiados atrás de ajuda humanitária.
Na Argentina, o assédio deselegante incomoda os músicos. No Chile, lembram de quando foram proibidos de se apresentar pela igreja católica, endossada pelo regime Pinochet. No Brasil, um pastor evangélico pirado mostra as dezenas de tatuagens da banda e tenta explicar como inclui o heavy metal na liturgia. Tudo soa exótico e atrasado.
De seu lado, os ingleses são pura classe. Nicko McBrain usa as horas livres para jogar golfe, vestido à rigor. Steve Harris viaja em companhia da família. Bruce Dickinson pilota o Boeing com a elegância de um comandante internacional. Os três guitarristas são bon-vivants.
Não há excessos, desavenças ou grandes revelações. Os protagonistas são unidimensionais: músicos passados da meia idade, muito ricos, adulados e de bem com a vida. Nada da bebedeira solitária do Lemmy ou dos percalços tragicômicos do Anvil.
Mas a história desses e suas imperfeições rendeu filmes bem melhores.
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