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Los Straitjackets e a surf music demolidora

O Motörhead toca amanhã no Via Funchal. Horas depois, em plena madrugada, o Misfits se apresenta no centro de São Paulo pela Virada Cultural. O mitológico Skatalites também está no Brasil. E, no domingo, tem show do D.R.I, banda que ajudou a arquitetar o gênero crossover.

Em meio a tudo isso, está passando levemente despercebida a vinda do seminal Los Straitjackets ao país.

O quarteto de Nashville também está escalado como uma das atrações da Virada Cultural e toca no próximo domingo, às 15h00, no Largo do Arouche. Show imperdível.

Los Straitjackets é citado com a mais cultuada banda de surf music em atividade, mas sua música vai além dessa convenção.

Veículo para o incrível guitarrista Eddie Angel, os Straitjackets passeam por gêneros como swing, rock'a'billy, garage e todo o espectro de som instrumental retrô. E como parece regra no revival surf, têm muito senso de humor: se apresentam sempre com bizarras máscaras de "lucha libre" mexicana.
Entre as fórmulas musicais congeladas no tempo, a surf music é aquela pela qual tenho mais simpatia. As bandas que ganharam notoriedade na esteira do sucesso de "Pulp Fiction", cuja trilha sonora ressuscitou a carreira do rei Dick Dale, foram espertas o suficiente para revisitarem o estilo com irreverência e identidade próprias.

O californiano Phantom Surfers, por exemplo, adotou o visual smoking & máscara, abusando de títulos sacanas para seus discos, como: "The Exciting Sounds Of Model Road Racing" e o ótimo "Skaterhater". E, musicalmente, são bastante competentes em recriar à sua maneira, e com algum teor de escracho, o som que embalava as festinhas da Califórnia nos anos 60.

A banda tocou no popular festival B.A. Stomp, em Buenos Aires, nos anos 90, e um amigo próximo teve a incumbência de hospedar e ciceronear um dos Phantom Surfers numa rápida passagem por São Paulo. O grupo, porém, não chegou a se apresentar por aqui.

Mas um de seus contemporâneos, ao contrário, foi protagonista de shows antológicos no Brasil durante a década de 90. Man or Astro-man?, a banda space-surf do Alabama, se apresentou por aqui algumas vezes e, em São Paulo, chegou fazer dois sets num mesmo dia, tal a demanda de público.

Vi duas apresentações do Man or Astro-Man?, ambas absolutamente incendiárias. A primeira, memorável, na casa de shows Broadway (atual Eazy) e a segunda, no Sesc Pompéia, quando tocaram ao lado do também americano Trans-Am que, literalmente, quebrou tudo.

O Man or Astro-Man? é como um filho bastardo de Dick Dale com Mark Mothersbaugh, do Devo. Tocam uma surf music envenenada, com um repertório quase que integralmente instrumental, e uma viagem retrô-espacial com direito a trajes de astroanauta e projeções de vídeos que parecem saídos de algum arquivo da NASA dos anos 60.

O último disco do Man or Astro-Man?,"A spectrum of Infinite scale", expandiu sua música para uma fronteira mais experimental, com direito à uma faixa com título em português: "Um espectro sem escala".

Mas nada como ter testemunhado o rei da surf guitar ao vivo e a cores. Em 1996, Dick Dale, que então excursionava pelo mundo com uma carreira revigorada pelo uso da bombástica "Misirlou", de 1962, na abertura de "Pulp Fiction", esteve no Brasil para uma série de shows.

Tocou no hoje extinto Olympia, na mesma noite em que o Fugazi atordoava o público com um set radical na Broadway. O conflito de datas foi contornado. Assisti ao Fugazi e, dias depois, me mandei para Santos ver Dick Dale tocar numa discoteca chamada Twister.

À época com um power-trio turbinado, Dale, um dos revolucionários da guitarra elétrica, triturou sua Fender diante de 300 afortunados. Assisti ao show a um metro do palco e vi as palhetas literalmente virarem pó com a famosa palhetada de Dale que faz Scott Ian e James Hetfield parecerem guitarristas de alguma bandinha de igreja.

No próximo domingo, há outra oportunidade imperdível de assistir a um impactante set de surf music. Não espero nada menos que uma performance demolidora dos Straitjackets.

Se eu fosse você, não perderia por nada.


Acima, Los Straitjackets no vídeo da sensacional "Tempest".


E aqui, o clipe de "Nitro", uma pequena amostra do poder de Dick Dale quando retomava sua carreira nos anos 90.

4 comentários:

Givas disse...

Estive no show do straitjackets na Virada cultural e achei simplesmente sensacional! Fiquei impressionada com o som dos caras! To doida pra baixar um CD e vi que a discografia é longa... indica algum em especial?!
Bjos

Eduardo Abreu disse...

O show foi ótimo, não? Também estive por lá. Olha, eu recomendaria o disco "The Velvet Touch of Los Straitjackets", de 1999. É coisa fina!

Anônimo disse...

Aqui tem a discografia deles:

http://revolutionrock001.blogspot.com/search/label/Los%20Straitjackets

Anônimo disse...

The exception proves the rule.