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Misfits e Danzig no Brasil

No próximo fim de semana, o Misfits se apresenta em São Paulo como parte da Virada Cultural.

Exatos três meses depois, em 16 de julho, será a vez de Danzig, a auto-indulgente banda de seu vocalista original, retornar ao país. A primeira e última apresentação do grupo por aqui aconteceu em 1995.

Danzig e o Misfits são bem melhores juntos que separados.

A obra escrita por eles entre 1977 e 1983 é algo do melhor no punk rock. Com elementos emprestados de Alice Cooper, Ed Wood, Elvis Presley e Bela Lugosi, o Misfits criou seu próprio universo de terror barato, rebeldia adolescente e três acordes.

Diferente de todas as outras bandas punk de sua geração, e tremendamente influente para as que vieram depois, o Misfits gravou pouco, saiu de cena e entrou para a antologia do gênero.

Porém, em 1996, após um longo imbróglio judicial, a banda voltou às atividades. Musicalmente, o retorno foi pouco inspirado e seguido por uma encarnação completamente picareta.

Enquanto isso, Glenn Danzig lançou o Samhain -uma extensão do Misfits com uma sonoridade, digamos assim, mais lúgubre- e teve momento de popularidade nos anos 90 com a exibição frequente do video-clipe de "Mother", um hit que, por algum tempo, o colocou em algum lugar entre o underground e o mainstream.

Me lembro de ouvir o spot promocional do show de Danzig, no já extinto Olympia, há 16 anos. Por uma razão ou outra, acabei perdendo.

Mas estive na primeira visita do Misfits ao Brasil e posso garantir que, pelo menos em 1998, a nostalgia funcionava. Na ocasião, ainda sob o impacto de sua recente volta e tocando para um público que jamais os tinha visto ao vivo, o Misfits convenceu.

Com os irmãos Doyle de um lado e Jerry Only de outro, a banda preservava algo do carisma e teatralidade originais, ainda que eu não faça ideia de quem tenha cantado com eles naquela noite.

O restante público também não se importou e cantou junto em alguns clássicos de escracho adolescente como "Last Caress" e "Teenagers from Mars".

Desde então, a banda se perdeu em projetos esquisitos, line-ups irreconhecíveis e até uma versão baile da saudade com Marky Ramone, em que assassinavam clássicos de Misfits e Ramones para plateias órfãs de Joey e Dee Dee. Uma vergonha.

Com essa formação, lotaram a tradicional casa de shows Palace (Citibank Hall), em São Paulo. Depois, já sem Marky, o truque não deu certo e tiveram um show cancelado, de véspera, sob a mirabolante alegação que Only estaria sofrendo com os efeitos de uma vacina contra febre amarela recebida em algum país sulamericano.


Em 2011, Danzig e o Misfits permanecem separados naquele que é um dos reencontros mais aguardados e improváveis do rock.

Talvez o Misfits não se aposente porque Only mantenha consigo o prazer de subir ao palco, mas também, e principalmente, porque trata-se de uma grande marca. Qualquer peça de merchandising que leve a estampa do mascote Crimson Ghost tem chance de ser um sucesso. A figura é tão emblemática que tornou-se um ícone pop e pode ser vista em filmes e camisetas de celebridades. Com a banda na ativa, esse efeito é apenas potencializado.

Em 2004, tive a oportunidade de entrevistar Jerry Only e o próprio me confidenciou que a banda é integralmente financiada por merchandising - uma espécie de Kiss do underground (leia a entrevista na íntegra aqui).

Danzig, por sua vez, sumiu dos holofotes. E, acreditem, o cara já foi popular. Em 1994, excursionou com o Metallica, para quem cantava 3 músicas todas as noites. Teve ainda uma de suas canções -"Thirteen"- regravada com extrema beleza por ninguém menos que Johnny Cash. Fundou uma editora de quadrinhos e tem uma fanbase adolescente que consome vorazmente seus produtos.

Mas Glenn, em seu mundo paralelo de hedonismo e feitiçaria de boutique, tornou-se um personagem irreal no nível de Chuck Norris. Suas histórias de excentricidade geram "facts" que povoam a imaginação de fãs de rock. Em foruns pela internet, é possível encontrar discussões hilárias como: "O que Danzig estaria fazendo nesse momento?", "Como Danzig agiria nessa situação?", etc. Virou personagem.

Em sua imperdível série "Metal Real Estate" ("As propriedades dos metaleiros"), o divertidíssimo site americano Metal Inquisition publicou fotos e opiniões sobre a residência de Glenn Danzig. A casa tem uma antena old school no telhado, uma parede inacabada de tijolos no jardim e ervas daninhas crescendo por toda parte.

Para o bem ou para o mal, Misfits e Danzig, mesmo separados, certamente vão divertir o público brasileiro.


Acima, o Misfits em uma performance explosiva com seu line-up clássico.


Danzig-personagem: uma das montagens mais engraçadas da internet. Aqui, um (bom) cover de Glenn Danzig faz um dueto bizarro com a colombiana Shakira. Repare no surrealismo da letra.

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