O Social Distortion nunca foi conhecido por ter uma produção musical prolífica. Da estreia ao segundo disco, a banda levou 5 anos.
Mais tarde, Mike Ness e seus comparsas viveram um período de alta atividade que rendeu alguns discos de ouro e um status que extrapola os guetos do punk.
Em seguida, com o afastamento da Sony Music, a banda precisou de infindáveis 7 anos recheados de todo tipo boato para lançar o álbum que a recolocou de vez na estrada.
Sair da confortável letargia custou, de cara, os serviços do já quarentão John Maurer, baixista que esteve com o grupo por 15 anos. O line-up, então já reformulado pela morte de Dennis Dannel, passou a ser quase uma banda de apoio para Mike Ness.
Foi com essa formação que o Social D aportou no Brasil esse ano pela primeira vez e tocou no Via Funchal, em São Paulo, para impressionantes 5.000 fãs.
Antes de ontem, saiu um comunicado que nos acostumamos a receber em longos intervalos (como da última vez, após 7 anos): o novo disco do Social Distortion está pronto. Sai em janeiro de 2011, com o single "Machine Gun Blues" estreando no mês que vem no iTunes e, por consequência, no resto da internet.
O que esperar do sétimo álbum de carreira da banda? O Caixa Preta aposta numa sonoridade que estará a um passo da faca nos dentes do raivoso White Light, White Heat, White Trash, de 1996, e a meio passo do ensolarado e otimista Sex, Love & Rock'n'Roll, de 2003.
Por trás de uma timidez que alguns têm como leseira, Ness é um artista sagaz. Soube muito bem batizar sua obra cujo perfil é quase autobiográfico. Da rebeldia punk dos 20 anos de idade de Mommy's Little Monster à heroína e ressaca do final dos 80's de Prison Bound, passando pelo reconhecimento artístico e o inferno particular de Somewhere Between Heaven & Hell.
A amargura de uma maturidade cheia de sequelas aparece em White Light, White Heat, White Trash. E o retorno, após um hiato durante o qual trocou a vida de junkie pela de pai e marido, vem com o registro de Sex, Love & Rock'n'Roll.
O novo disco, Hard Times and Nursery Rhymes, pode indicar uma tentativa de estabelecer a comunicação entre o passado turbulento e a placidez da quinta década de vida que se aproxima.
A única canção inédita registrada durante os últimos 7 anos é "Far Behind". Faixa ainda mais melodiosa e assobiável do que se ouviu em parte do repertório de Sex, Love & Rock'n'Roll. Poderia ser uma notícia boa para uns e ruim pra outros, mas a assinatura sonora de Mike Ness parece mesmo indelével.
Trata-se do primeiro, e talvez único, artista egresso do punk rock a incorporar elementos da música de raiz americana e, ainda assim, manter uma interessante conexão com seu passado.
Ness redescobriu Johnny Cash para um novo público em 1990, com a já famosa regravação de "Ring of Fire", nada menos que 15 anos antes da cinebiografia que colocou o "homem de preto" mais uma vez no mapa. O próprio Cash admirava o Social Distortion e Neil Young, outro apreciador, convidou a banda para abrir uma de suas turnês naquela época.
Não são apenas estes dois bastiões da boa música norteamericana que reconhecem em Mike Ness muito mais do que o punk bêbado do ótimo documentário Another State of Mind, de 1983. A deferência de Bruce Springsteen e Brian Setzer os levou a participar do primeiro disco solo de Ness, Cheating at Solitaire, uma mistura envenenada de country, bluegrass e rock'n'roll estradeiro.
Assim, à essa altura já parece pouco importante o quanto a vida de seu mentor pode interferir no sétimo capítulo da saga do Social Distortion.
Para o céu ou para o inferno, muita gente já aguarda ansiosa pelo primeiro mês de 2011.
Acima, Mike Ness e Bruce "The Boss" Springsteen em uma jam em 2009.
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1 comentários:
Bacana a Caixa Preta, Edu.
Adicionei aos links do Tecituras. Apareça tb.
abraço,
Gi
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