Em tempos de festivais com palcos diversos, gigantescos telões,
tirolesas, rodas gigantes e bares temáticos, parece estranho usar a mesma
designação para descrever um evento bem mais modesto, no qual três bandas tocam
sem grandes firulas em um clube fechado. Mas aí, bem, você se lembra que esse grupos
vêm todos do exterior, pertencem ao mesmo selo e esse selo é simplesmente a Sub
Pop Records. Sim, estamos falando de um festival.
A gravadora de Seattle, que escreveu um capítulo na cultura pop ao descobrir e lançar o Nirvana, trouxe ao Brasil em 15 de maio último aquele que permanece seu principal expoente –o veterano Mudhoney–, além de duas bandas da nova geração. Claro que os pais do grunge foram tratados como a grande atração da noite e arrebanharam a maioria dos presentes, mas os outros grupos certamente saíram dali com novos admiradores.
A gravadora de Seattle, que escreveu um capítulo na cultura pop ao descobrir e lançar o Nirvana, trouxe ao Brasil em 15 de maio último aquele que permanece seu principal expoente –o veterano Mudhoney–, além de duas bandas da nova geração. Claro que os pais do grunge foram tratados como a grande atração da noite e arrebanharam a maioria dos presentes, mas os outros grupos certamente saíram dali com novos admiradores.
The Obits é um quarteto americano fundado em 2006 e que tem
na bagagem três álbuns de estúdio. Fazem um power pop bastante consistente e
com canções diretas no queixo, mas
também apresentam temas climáticos e passagens com boas tramas instrumentais.
Seu guitarrista solo, Sohrab Habibion, que tocou vestindo uma camiseta com um
Gene Simmons toscamente pintado à mão, parece um híbrido de Frank Black e Andy
Gill – tem a aparência do primeiro e algo do estilo do segundo. O grupo tocou
para um terço da casa, mas conquistou o público pela qualidade de seu
repertório e a execução competente.
Metz, mais conhecido por aqui, veio na sequência e fez um
set ensurdecedor; aqueles para deixar o tímpano em frangalhos. Me lembro de
poucos concorrentes à altura: Motörhead, Mummies e Primal Scream são os
primeiros que vêm à mente. O problema, no caso do Metz, é que parece muito
barulho por nada. Há quem diga que em disco o material do grupo é coisa séria,
mas ao vivo suas canções funcionam como um massacre aos sentidos: timbres
metálicos e perfurantes, paredes de distorção e excesso de feedback - tudo em um volume absurdo. A experiência atinge um nível tão extremo
que, de um jeito torto, termina por fazer sentido. O trio canadense, que
tocou diante de bem mais gente que o Obits, e foi efusivamente aplaudido, soa mais
rock’n’roll em sua demência que a maioria dos nomes que pululam nos festivais
descolados. É alguma coisa.
E então, para separar homens de meninos, Mark Arm e companhia surgem no palco e mostram como se põe a casa abaixo. Bem ensaiados, coesos e com completo domínio de palco, atacaram de cara com “Slipping Away” e, logo em seguida, com seu novo hit “I Like it Small”, do recente álbum Vanishing Point. Foi o primeiro gol de placa da noite, com o público –algo em torno de 1.000 presentes–, pulando e berrando o refrão. Não demorou e “Suck You Dry”, uma pérola que merece lugar em qualquer antologia noventista, causou alvoroço e a sempre bem-vinda visão do povo enlouquecido na pista.
Durante a primeira metade do set, Arm acumulou as vezes de
guitarrista e auxiliou Steve Turner na execução de sua minuciosa fórmula sonora
que mistura garageira sessentista, surf, proto-punk e o espírito da Seattle de
25 anos atrás. Mais tarde, livre do instrumento, Mark Arm assume sua persona de
frontman. Outras pérolas como “Sweet
Young Thing” e “Touch Me, I’m Sick” mantêm a temperatura elevada até o grupo
abandonar o palco e retornar para um bis dos mais explosivos.
“Here Comes Sickness”
proporciona o início de uma farra de stage
diving que deixa seguranças atônitos. Uma lourinha sobe ao palco e, antes
de se atirar de volta, tasca um beijo na bochecha de Turner. Minutos mais
tarde, reaparece para fazer o mesmo com Arm e despentear atrevidamente seu
cabelo. A faixa viajante “When Tomorrow Hits” oferece um breve momento de
introspecção e é seguida de “In ‘N’ Out of Grace”. O clima de animosidade entre
público e seguranças parece antever algum atrito mais ríspido, mas, então, a
mesma lourinha sobe ao palco, levanta a blusa e, sem sutiã, mostra o que a
natureza lhe deu. A farra era total, e o Mudhoney apagou fogo com gasolina em
uma incendiária sequência com covers de Fang, Dicks e Black Flag.
Consta que o Sub Pop Festival voltará em 2015. Se depender
do sucesso da primeira edição, os promotores devem estar bastante animados.
Nós também.
"Here Comes Sickness" em São Paulo: o início de um bis incendiário
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