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A volta triunfal do Afghan Whigs

Até o recente lançamento de Do to the Beast, o último álbum de estúdio da cultuada banda Afghan Whigs era 1965, lançado em 1998, portanto ainda no século passado.

Greg Dulli, a figura central do grupo, andou envolvido nesse intervalo com outro dissidente da cena noventista, Mark Lanegan, ex-Screaming Trees, na dupla batizada de The Gutter Twins - provavelmente em referência aos Glimmer Twins Keith Richards e Mick Jagger. Participou também de uma faixa do disco Moon Chi Chi, do All Systems Go; banda de power pop formada por ex-integrantes do canadense The Doughboys e do americano Big Drill Car.

A volta dos Whigs, no final de 2011, foi tão inesperada quanto bem recebida. Público e crítica se impressionaram com a ótima forma da banda, ainda mais afiada no palco que em seus tempos dourados de heróis do rock alternativo. Dali para entrar no circuito de festivais e tocar em programas de TV foi um pulo. E a primeira consagração foi o posto de atração principal em um dos eventos do festival SXSW, em Austin. Na ocasião, o grupo fez uma inesperada jam com Usher, o mega-astro do rap, e carimbou o passaporte que lhe garantiu o retorno à ribalta - ou algo próximo disso.

Afghan Whigs em São Paulo - 22/05/14
Do to the Beast, o primeiro disco de inéditas do Afghan Whigs em 16 anos, lançado pela Sub Pop, traz uma das melhores fornada de canções já produzidas por Greg Dulli. Seus dramas épicos de corações partidos vêm sustentados por um instrumental de primeiríssima, com direito a arranjos elaborados de cello, violino, piano, slide guitar e percussão. A qualidade das composições chega a um novo patamar com clássicos imediatos como "Algiers" -um tema com o verniz das trilhas de spaghetti western do maestro italiano Ennio Morricone-, "Parked Outside", "The Lottery", "Royal Cream" e a incendiária "Matamoros". Tudo bem tocado, bem gravado e impecavelmente produzido.

A alquimia do alt-rock venenoso com o soul de branco nunca soou tão bem. E Dulli, que sempre caminhou na linha estreita entre ser um cantor visceral e um hipster-blasé desafinado, capaz de entregar um refrão esculhambado para canções de outra forma perfeitas, como o funk "Blame, Etc", mostra que é um artista mais completo em 2014. O resultado da experiência, inspiração e transpiração é que Do to the Beast já caminha gloriosamente para a lista dos grandes discos de 2014.

A reboque da promoção do álbum, os Whigs tocaram no festival Coachella; defenderam o novo repertório no ótimo programa de Jools Holland, na BBC, e tocaram ainda nos estúdios da rádio KEXP, de Seattle.

Na última semana, a turnê chegou a América do Sul. Greg Dulli e companhia desembarcaram no Brasil pela primeira vez e apresentaram um show arrebatador no Audio Club, em São Paulo, para um público que fez bonito.

A volta do Afghan Whigs é daquelas triunfais e Do to the Beast merece muito ser ouvido. Agora.



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