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Jeff Pezzati e Naked Raygun: heróis não morrem

Fiquei sabendo, tardiamente, que Jeff Pezzati, ícone da cena alternativa de Chicago, vem sofrendo há alguns anos do mal de parkinson.

À frente da The Bomb, banda que fundou em fins da década de 90, Pezzati tem a bravura de continuar gravando e, principalmente, se apresentando ao vivo.

Não fala sobre sua condição, mas é visível que, mais do que sua conhecida timidez, a performance comedida no palco é um jeito de controlar os sintomas da doença.

Jeff Pezzati passou por um divórcio que quase o levou à ruína financeira, descobriu o parkison, mas continuou de pé. É um sobrevivente.

No início dos anos 80, integrou -como baixista- uma das bandas americanas mais cultuadas do período: o trio de noise punk Big Black. Começava ali sua amizade com o guitarrista colombiano Santiago Durango, com quem tocaria mais tarde no Naked Raygun, e com o idiossincrático músico e produtor Steve Albini, que viria a produzir, uma década e meia depois, dois álbuns da The Bomb.

A importância do Naked Raygun para o rock underground de Chicago é difícil de ser medida. Mas a afirmação de um crítico do jornal Chicago Tribune dá a ideia: "É simplesmente a maior banda que Chicago já produziu".

E estamos falando da cidade que deu origem a grupos como Jesus Lizard, Ministry, Smashing Pumpkins, The Dwarves, Wilco, Tortoise, Trouble e muitos mais.

O Naked Raygun cantava sobre a vida dos jovens da classe operária. Seus integrantes se misturavam com o público e eram parte dele. Dirigiam a própria van nas turnês e circulavam pelos subúrbios com seus inseparáveis coturnos Doc Martens e os indefectíveis corte de cabelo escovinha. Eram uma espécie de Clash local, mas bebiam mesmo do songwriting do Buzzcocks.

Seu álbum de estreia, Throb Throb, de 1985, é uma gema do punk americano. Em impacto sônico, certamente está ao lado de discos como Wild in the Streets, do Circle Jerks, e Damaged, do Black Flag. Em qualidade de composição, está definitivamente acima.

Os primeiros 12 segundos do álbum, com o riff lancinante de "Rat Patrol", obra do talentoso John Haggerty, resultam no melhor início de um disco punk desde Nevermind the Bollocks.

E desta bolacha saíram outras preciosidades, como "Surf Combat", "Metastasis" -que conheci num passado longíquo através de uma coletânea da Flipside- e "Managua". Os riffs abrasivos e os famosos "hey-hey-hey" já estavam todos lá, incitando a tensão e a excitação de uma época.


Como uma nota curiosa, a capa de Throb Throb é assinada pelo importante quadrinista Mike Saenz, também natural de Chicago, e pioneiro absoluto na criação de gibis com arte gerada em computador ("Shatter", "Crash", etc).

O Naked Raygun gravaria uma seqüência de álbuns fundamentais na segunda metade dos 80's, como Jettison, All Rise e Understand?, até encerrar a carreira em 1991, pouco depois de lançar seu epitáfio: Raygun...Naked Raygun.

Desde 1999, quando gravou o belíssimo disco ao vivo Free Shit!, o Raygun faz apresentações bissextas para plateias ávidas em reviver momentos perdidos da juventude punk.

Jeff Pezzati está vivo.


Naked Raygun toca "Rat Patrol" ao vivo em 1988

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