Kim Fowley, produtor das Runaways e excêntrico personagem da cena musical de Los Angeles, morreu aos 75 anos de idade. Foi ele quem concebeu a ideia da banda feminina de punk, apresentou as integrantes umas às outras e produziu o disco epônimo de 1976, além de Queens of Noise e Waitin' for the Night. Fowley também co-escreveu o grande hit do grupo: "Cherry Bomb".
Em 2001, o jornalista e escritor Marc Spitz -da revista Spin e autor da última biografia de David Bowie- juntou-se a Brendan Mullen, ex-proprietário do Masque, templo underground de Los Angeles, para escrever um livro sobre as origens da cena punk de LA. Adotaram a mesma fórmula do famoso "Mate-me, por favor", de Legs McNeil, e entrevistaram todos os importantes personagens que colocaram a cidade no mapa do punk, hardcore e new wave. O livro "We Got the Neutron Bomb" é ótimo, mas, infelizmente, nunca foi lançado no Brasil.
Selecionei abaixo trechos de depoimentos de Kim Fowley no capítulo do livro dedicado às Runaways e que também traz, claro, as opiniões de Joan Jett, Cherrie Curie e outras pessoas ligadas ao grupo.
- "A solidão de um visionário é você ser a única pessoa em dado instante do universo a perceber a magia. Eu sou uma pessoa mágica, então reconheço outras pessoas mágicas. Precisa de alguém assim para identificar outro igual".
- "O mundo é dos homens, já dizia James Brown. E ele estava certo. Quando você pega mulheres para fazer coisas tradicionais masculinas, você terá controvérsia e combustão. As Runaways foram minha ideia, e eu fui atrás de encontrar as pessoas para integrar o grupo. E através de uma sequência de confusão, sorte e bom gosto, cinco garotas foram selecionadas".
- "Quando eu conheci Kari Krome, ela era muito letrada e estava muito mais interessada em Jack Kerouac do que em Chuck Berry. Ela não tinha pontencial para rock star. Ela é uma garota bonita de se olhar, mas você precisa ser Steven Tyler ou Iggy Pop. Kari Krome também não era Patti Smith. Patti estava interessada nas mesmas coisas que Kari Krome, mas acontece que uma delas (Patti) era uma performer e a outra (Kari) escrevia letras para os outros interpretarem".
- "Por que não poderia haver um Elvis garota, ou os Beatles femininos, ou uma Little Richard ou Bo Diddley de saias? Sempre houve a versão feminina de tudo na música, mas ninguém jamais havia recrutado cinco garotas e dito: 'Essas cinco meninas são mágicas, e se elas tocarem essas canções e tiverem certo estilo, o público vai comprar'. Foi como fazer uma seleção de elenco para um filme de cinema".
- "Fui eu quem disse às Runaways o que era bom e o que era mau. Era um navio apertado e a tripulação se rebelou. Elas eram meninas, não mulheres; elas tinham realmente a idade que nós alardeávamos. Todas tinham dezesseis anos, estavam no colegial... Houve episódios internos de histeria adolescente, do tipo: 'Você usou tal peça de roupa da mesma cor que eu, e vou brigar por isso agora'. Ou então era: 'Não fale com o meu namorado ou vou furar seus olhos, vadia'".
- "Eu já tinha visto Darby Crash e Pat Smear [dos Germs] antes. Eles eram groupies masculinos à espreita das Runaways. Eram mais como irmãozinhos, mas havia alguma atitude de groupie por trás da postura deles".
0 comentários:
Postar um comentário