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John Zorn e Naked City: não é o jazz do seu pai

John Zorn esteve em São Paulo há uma semana com sua banda Masada. Não pude ir ao show, fato pelo qual devo me penitenciar pela próxima década e meia.

Entre os músicos relevantes no planeta, Zorn é certamente o mais prolífico. Grava sem parar e mantém um nível assombroso de qualidade. Onde aparecer sua assinatura, vá em frente sem medo.

O primeiro contato que tive com o saxofonista novaiorquino foi em meados dos 90's, através do disco de estreia da banda Naked City. Um quinteto da pesada, integrado por músicos de carreiras estabelecidas, como o guitarrista Bill Frisell e o baterista Joey Baron, seguiu pela ideia torta de John Zorn de misturar jazz com colagens de trilhas sonoras, country, surf music, música clássica e uma pegada punk-grind.

Nesse sentido, trata-se de um álbum definidor: estabelece a ponte entre o senso comum de sofisticação com a brutalidade juvenil de um subgênero underground. Não é jazz-rock coxinha para público que gosta de moderação.

Zorn foi dos primeiros a enxergar valor artístico em estilos nada palatáveis e dominados pela testosterona como death metal e grindcore. Escreveu a respeito, explicou as escalas, os timbres, a afinação. Tornou-se um fã confesso.


Conceituadíssimo, foi convidado em 1989 a se apresentar no Free Jazz Festival, importante evento que fez parte do calendário de shows de São Paulo e Rio por mais de 15 anos. Zorn veio com o Naked City no auge da forma e subverteu, de cara, a figura do jazzista pra publicitário ver: apareceu na coletiva de imprensa do festival trajando uma camiseta da banda americana de crossover thrash The Accüsed.

Assisti ao show há muitos anos num velho VHS e me diverti com a cara de pastel do público brazuca da época: ninguém entendeu lhufas.

Dali pra frente, Zorn e o Naked City radicalizaram ainda mais na forma, ilustrando seus discos com fotos barra-pesada de S&M e apresentando dezenas de temas de jazz-grind que mal atingiam um minuto de duração. Zorn também deve ter se divertido bolando títulos hilários como "Sack of Shit", "Speedfreaks", "Pigfucker", "Igneous Ejaculation" e outros. O Naked City tinha humor.


John Zorn ainda se meteria em outra empreitada barulhenta com o trio Painkiller, cuja formação inusitada trazia o notório músico e produtor Bill Laswell no contrabaixo e o baterista Mick Harris, ex-Napalm Death.

Há muitos anos, li uma entrevista de Harris numa revista de bateria. Ele revelou que estava um pouco inseguro quando chegou ao estúdio para gravar com um músico da estatura de John Zorn. Quis conhecer o repertório pra saber como poderia tocá-lo de seu jeito, ao que Zorn respondeu: "Mas não tem repertório. Você toca o que quiser e a gente te acompanha".


Naked City ao vivo com o aloprado japonês Yamatsuka Eye, o sexto elemento da quadrilha

4 comentários:

Romulo Ataides França disse...

E ai cara! Gostei do seu texto, mas sabe onde acho essa apresentação do Naked City aqui no Brasil, sou fan do trabalho do John Zorn e estou muito curioso quanto a essa apresentação da banda aqui.
Valeu!

Eduardo Abreu disse...

Romulo, já procurei esse vídeo algumas vezes no YouTube e nunca encontrei. Vi o show em uma fita VHS há uns 20 anos! Ainda me lembro que Fred Frith tocou vestido com um terno risca de giz e chapéu, na maior pinta de mafioso. E que muitas vezes eles riam no final das faixas, provavelmente diante do espanto do público. Se eu acabar encontrando esse show online, posto o link por aqui.

Anônimo disse...

Completo

https://www.youtube.com/watch?v=DupAKHyP6XI

Anônimo disse...

https://www.youtube.com/watch?v=DupAKHyP6XI