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Top 10 - O melhor de 2015




KILLING JOKE - Pylon

Desde 1999, os ingleses só lançam discos sensacionais. É um caso raro, talvez único na música pop, de uma banda já cultuada e bastante influente que atingiu seu auge criativo com três décadas de carreira. E agora, o Killing Joke resolveu abusar: lançou três álbuns simplesmente primorosos em apenas cinco anos. "Pylon", o mais recente deles, é definitivamente o disco de 2015. O grupo permanece refinando seu cruzamento de pós-punk oitentista com metal industrial, e adicionando à receita as exatas doses de dub e levadas dançantes. Mesmo que já venham fazendo isso há algum tempo, o resultado não deixa de impressionar. A bateria tribal encontra-se com guitarras geladas e cortantes, produzindo uma ambiência verdadeiramente apocalíptica. Jaz Coleman continua cantando bem demais e tecendo profecias sobre o fim do mundo civilizado com referências cifradas ao ocultismo. E toda essa descrição sequer chega perto de fazer justiça a canções como as emocionantes "Euphoria" e "Big Buzz", ao bate-estaca "New Cold War", à bela e sombria "War on Freedom" ou à avalassadora "I Am the Virus". De chorar.



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THE BOMB - The Axis of Awesome

The Bomb é um dos mais bem guardados segredos de Chicago. Liderado por aquele que considero o melhor vocalista do punk rock americano -Jeff Pezzati-, o grupo vem gravando um disco melhor que o outro desde o início dos anos 2000. Esse ano, o Bomb soltou o excelente "The Axis of Awesome". O EP é composto de cinco faixas, entre as quais um cover de "Backseat of My Car", dos Dwarves. Consta que Pezzati sofra há anos de Parkinson, mas sua voz permanece como nos tempos do grande Naked Raygun (e sim, seus "Oh, oh, oh, oh. Hey, hey, hey!" estão todos lá). A música do Bomb é energética, com bons riffs de guitarra costurando cada composição e um fundo de melancolia que dá o brilho especial. Pra melhorar, uma versão especial de "The Axis of Awesome" foi lançada em vinil transparente com arte gravada em serigrafia. Coisa linda.




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PiL - What the World Needs Now...

A abertura do novo trabalho do PiL é talvez a mais abrasiva em toda a discografia da banda. "Double Trouble" é um punk rock rasgado e cantado por John Lydon como se nele ainda habitasse um certo Johnny Rotten. De arrepiar qualquer fã dos Pistols! Em "Bettie Page", uma guitarra de agente secreto faz a linha até um refrão que remete claramente a David Bowie. "What the World Needs Now..." é assim; começa punk, flerta com a new wave, tem climas atmosféricos e, em alguma altura, cai, obrigatoriamente, no funk chapado e viajandão que é marca registrada do PiL. E o disco só cresce a cada audição. Lydon é gênio.



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IMPERIAL STATE ELECTRIC - Honk Machine
Vamos combinar: se tem Nicke Royale na parada, fique tranquilo que é música boa. O ex-líder do Hellacopters é um melodista de primeira, sabe tudo de produção e tem ainda uma ótima voz. Por conta disso, é natural que o Imperial State Electric, sua nova menina dos olhos, caminhe para suprir a lacuna deixada pelo grande Hellacopters. O que temos em "Honk Machine" é outra grande fornada de canções que bebe no melhor dos 60's e 70's. A balada soul "Walk on By" é de partir corações e "Another Armageddon" traz o refinamento do rock clássico sueco.

 


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KADAVAR - Berlin
O trio alemão Kadavar leva tão a sério a ideia de recriar o hard rock clássico que se veste com roupas de brechó e mantém cortes de cabelo e costeletas como se usava em 1973. Alguns dizem que é passar do limite, que eles estão fazendo cosplay de Foghat e Hawkwind. E quer saber? Dane-se. O que vale é a capacidade de escrever boas canções demonstrada por Lupus, Dragon e Tiger (ótimos nomes!). E o disco já abre impondo respeito com o rifaço de guitarra de "Lord of the Sky" e seus power chords de rock de arena. Há quem reclame que o Kadavar, sem os mantras pesados e psicodélicos dos álbuns anteriores, terminou previsível em "Berlin". Mas são justamente as canções mais diretas que os fazem sair de um gueto já superpovoado de grupos que tocam longuíssimos e hipnóticos drones. E para ficar ainda melhor, o álbum termina com uma estupenda regravação da balada fantasmagórica "Reich Der Träume", da mitológica Nico (sim, aquela que cantou com o Velvet Underground e que era alemã como o Kadavar).



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JOHN CARPENTER - Lost Themes
John Carpenter é um dos cineastas mais singulares do final dos 1970 e autor do score musical de quase todos os seus filmes. É dele, por exemplo, o cabulosíssimo tema de "Halloween" e também as trilhas geladas e atmosféricas de filmes como "A Bruma Assassina" (The Fog) e "Eles Vivem" (They Live). Aos 67 anos de idade, Carpenter decidiu lançar seu primeiro álbum solo. O resultado oferece mais de sua música eletrônica baseada em sintetizadores vintage e com lampejos de synth-rock. Apesar do título, "Lost Themes" traz apenas composições inéditas e que funcionam como uma viagem por um filme imaginário. Conheça o disco e corra o risco de não querer ouvir outra coisa.



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DURAN DURAN - Paper Gods
Duran Duran sempre foi uma de minhas bandas prediletas do pop 80. Até hoje não posso ouvir "Save a Prayer" e volto imediatamente ao verão de 1982, quando o público lotava os cinemas para ver "ET - O Extraterrestre" e o mundo parecia um lugar muito mais ingênuo. Mas o grupo não resistiu à impiedosa virada de milênio e foi contagiado pela ruindade de seus pares. Lançou discos pavorosos, como "Pop Trash" e "Red Carpet Massacre", ressurgindo inesperadamente com o ótimo "All You Need is Now", de 2011. E para provar que o álbum não era seu canto do cisne, temos "Paper Gods". Simon LeBon mantém a voz que o mundo conhece de hits como "Rio" e "Planet Earth", e o grupo ainda é capaz de escrever um refrão como: "Bow down to the paper gods / In a world that's paper thin" (Ajoelhe-se diante dos deuses de papel / Em um mundo com espessura de papel"). Entendeu o recado? E mais: qual single pop de 2015 chega perto da esfuziante "Pressure Off", com a presença inestimável do mestre Nile Rodgers, do Chic, e da cantora Janelle Monáe?



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FAITH NO MORE - Sol Invictus
"Sol Invictus" é provavelmente o disco mais traiçoeiro de 2015. Foi antecedido de tamanha expectativa, dado o longuíssimo hiato desde "Album of the Year", que estranharíamos o que quer que ele nos trouxesse. E o álbum tem um tipo de estranheza própria do Faith No More, o que não simplifica em nada sua apreciação. Imagino, aliás, quantas resenhas escritas no calor da primeira audição já andam merecendo uma boa revisão. Porque as dez canções de "Sol Invictus" demoram a fermentar, mas revelam que estamos diante de um Faith No More legítimo. Está tudo ali, em seu lugar, e o álbum cabe perfeitamente na discografia da banda. Há faixas tortas, misteriosas, sombrias e ainda algumas que, noutros tempos, já sairiam candidatas a hit. Experimente "Superhero", "Separation Anxiety", "Black Friday" ou "Matador" e me diga se, em 2015, há algo no FNM que lembre uma banda aposentada. Eu acho que não.



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CLUTCH - Psychic Warfare 

A veterana banda de Maryland só melhora com o tempo. Seu álbum anterior, "Earth Rocker", foi um dos mais ouvidos pelo blog em 2013, e esse ano o grupo voltou ao estúdio para produzir outra pequena jóia repleta de peso, groove e psicodelia. "Psychic Warfare" é um tanto mais sombrio que "Earth Rocker" e destila temas que vão de teorias conspiratórias americanas a feitiçaria, flertando com uma sonoridade de leve acento sulista e um coração que pulsa stoner rock. Discaço!



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TURBONEGRO - Hot for Nietzsche (single)
Os vocais roucos e gritados de Tony Silvester, conforme registrados no disco "Sexual Harrasment", não estavam funcionando para o Turbonegro. E então o que fizeram esses talentosos noruegueses? O óbvio: mandaram Silvester cantar como se fosse o lendário Hank Von Helvete. O resultado é um single com um daqueles rocks épicos de sábado à noite; uma canção sobre farras e excessos, e que o Turbonegro não escrevia pelo menos desde o álbum "Retox". A canção abre com filigranas guitarrísticas à Pete Townshend, tem poderosos acordes AC/DCianos e os faiscantes solos do grande Euroboy. Nasce um pequeno novo clássico.



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